segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Julgar ou não julgar?!

Talvez nosso maior erro seja justamente o de julgar aquilo que nos é diferente, aquilo que nos é inusual.
Tudo bem se aqueles a quem julgamos nos seja caro e esse julgamento se transforma então num conselho para aqueles a quem prezamos. Uma justificativa,no entanto, uma saída para que sempre possamos então opinar e revelar posições que julgamos adequadas.
Onde então que está escrita essa lei do correto? Que consciência devastadora nos obriga ou nos desculpa para nos sentirmos tranquilizados a julgar? O correto não se inscreve em lápides, e o essencial é invisível aos olhos.
Muito bem, isso talvez signifique que cada um de nos devíamos administrar nossa própria vida e deixar de olharmos para o lado. No entanto, viver é estar rodeado de outras vidas e estas vidas, na maioria das vezes, se relacionam ou interferem na nossa, até mesmo inconscientemente.
Novamente uma sentença inexata, um fato sem receita, uma roda que nunca cessa.
Eu penso (e vejam bem, ! EU PENSO! E isso não significa que seja uma verdade absoluta, ao contrário, é um refletir de apenas uma consciência, e nem por isso irrefutável) que tudo se baseia no respeito. Podemos viver em harmonia se cada um puder viver e se expressar em liberdade, sendo observado o respeito de outrem para conosco. Seria tão simples se simplesmente não tivéssemos os dedos acusadores de uma moral a muito falida e deturpada. Digo isso pela exata razão de que todos nós fazemos aquilo que nos dá prazer, a dificuldade é que muitas das nossas condutas são constrangidas por essa moral inconsequente que nos obriga muitas vezes a usarmos máscaras sociais tolas para não sermos julgados desnecessariamente e agir na surdina para não sermos "difamados".
Na maioria das vezes não o fazemos por nos julgarmos superiores (e há também o auto-julgamento, esse também devastador) e sim por seguir a corrente (se todos podem opinar, por que eu não?) o que nos coloca sempre a mercê da mesma conduta (então por que a surpresa?!).
Com isso volto a bater na mesma tecla, a do respeito.
Não precisamos por isso nos abolir de sermos honestos. Na publicação passada eu falei exaustivamente sobre esse tema, e volto em alguns pontos por que aquilo em que acredito eu gosto de discursar exaustivamente (mea culpa).
Você pode ser franco sem ser por isso ser invasivo. Ouvi recentemente é concordei no seguinte: quando solicitado, opine, mas não justifique sua opinião. A cada um sua dose de honestidade, no momento e na ocasião adequada. Há uma linha muito tênue entre a honestidade e a hipocrisia, devemos estar atentos. Buscar compreender ao invés de cuspir impropérios a todo custo.
Revisitar o que em nós também pode servir de julgamentos externos tambem ajuda a não cairmos em tentação.Poderemos nos impressionar com o resultado.
Pensei nessa problemática por que verifiquei em mim uma mania de apontar. Percebi que estava a muito, me crendo onisciente e sendo levado por essa ilusão a  julgar pessoas próximas a mim por puro capricho só pra ter o que falar.
A língua é geradora de preconceitos e criadoras de guerra por vezes evitável se nos dessemos conta da arrogância que nos guia na maioria das vezes.
Somos humanos e propensos a enganos, e está longe o dia em que vamos estar livres desses enganos, ao menos não na sua totalidade. No entanto a reforma íntima é por demasiado complexa e tortuosa, porém necessária. Um passo de cada vez, e sempre em frente.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Miríade da Verdade

Das relações que criamos com as virtudes possiveis a nós, a mais intrincada e controversa é com a verdade. O que seria mais propenso a desacertos e enganos (se colocados de maneira também enganosa) e o que criaria mais conflitos se não essa relação que cada um temos com ela? Li um livro de pensamentos que falava sobre a verdade mas que se firmava na tarefa de diferenciar verdade de sinceridade. Está última dizia ser sobre a relação que temos com o outro. Se alguém te pergunta se está gordo ou se você achou que aquela roupa não caiu bem, cabe a você querer ser sincero ou não; e verdade (que o autor chama no livro de boa-fé) é fidelidade a aquilo que se pensa e ação para dar cabo a essa verdade. O que dá para entender é que verdade é sermos honestos conosco mesmo. Nem só isso por que eu posso ser verdadeiro comigo mesmo, conhecer minhas limitações, meus defeitos, meus preconceitos mas não agir com verdade. Criar um exterior que seja doce aos olhos alheios, mas que não condiz no que eu acredito. Isso pode ser a longo prazo perigoso por que eu acabo me acostumando a viver o que não acredito e posso em consequência criar uma outra verdade para mim, a verdade plástica, sem conteúdo e sem foco. Não estamos longe de vivenciar isso por que é mais comum às pessoas, criar um enredo falso para a própria vida. É como uma eterna peça de teatro onde os atores viram personagens e se perdem nele. A verdade de que fala o autor desse livro é aquela em que você não se perde em criar marionetes sociais. É aquela que é interior mas que vai refletindo no seu ser para se tornar externa e brilhar como o sol do meio dia. Eu me volto para mim mesmo e compreendo meu ser, minhas crenças, meus defeitos, meus dissabores, minhas máscaras sociais; e a partir dessa compreensão eu espelho no exterior todas esses fatos, e melhoro, e me moldo para não mais me enganar. É claro que essa verdade não é eterna, você deve colocá-lá sempre a prova de outras verdades e com isso talvez até mudar seu objeto mas sua essência, essa fidelidade que vem desde o cerne, que nasce com essa verdade, se mantém a mesma. O perigo de não ser fiel a sua origem transforma essa verdade em pedantismo. Tenho me obrigado a refletir sobre o que eu acredito, sobre o porque penso como penso, da onde surgiu essa ideia é no que ela vem se firmando até hoje. Acho que muitas das pessoas tem hoje em dia convicções ( que nascem de educação preconceituosa e vive de lugares-comuns, do tipo: pau que nasce torto nunca se endireita) e não verdades. Há uma preguiça (e essa tem a aparência de eternidade) de se pensar. As pessoas não procuram refletir acerca de si mesmas e de suas ideias. É pura e simples filosofia, pensar é refletir e essa reflexão nos guia em direção ao auto-conhecimento. As convicções atuam como uma venda interna nos impedindo de nos conhecer e nos tornando ilusórios acerca dos fatos do que somos e porque o somos. Nos enganamos?! Claro, somos humanos, e nossos erros sobrepujam os acertos. Mas a reflexão nos ajuda a não nos iludir com uma possível celebridade do Ser, tira o tampo do engano do auto conhecimento. Os budistas afirmam ter encontrado a felicidade, através do exercício de se voltar para dentro de si mesmo. Não duvido!
Como para tudo na vida, não há receitas e nem prazos para tal resultado, mas o inicio da reforma íntima começa pela base. Se isso tornar-se-á realidade só o tempo pode dizer, mas pelo menos poderemos andar sem a venda do engano.
É impensável crer numa verdade absoluta, só o auto conhecimento nos traz liberdade de ações. E será como perder os grilhões que a séculos aprisionam a felicidade humana.

domingo, 15 de julho de 2012

Carta a Tânia

     Cara amiga, o universo nos inspira a contar as mais épicas histórias, mas na verdade nos conta e nos revela o mais belos poemas, o do viver. Nas tramas desses contos estamos nós, os atores imberbes e inexperientes experimentando nesse palco a beleza da peça do cotidiano.
     Minha história de afetuosidade e sincera amizade contigo começou quando eu ainda me encontrava no  início das descobertas da vida e você iniciando uma carreira que futuramente me inspiraria admiração e profundo respeito e que seria um alicerce da minha própria carreira profissional. Quando criança as experiências iniciais de aprendizagem e afetuosidade apesar de carregarem mais além uma profunda mudança nas nossas vidas, nos passa no momento inicial desapercebidas, por que a ingenuidade das descobertas nos incita a seguir adiante sem olhar para trás. 
     Naquele tempo eu era apenas um curioso galgando os primeiros passos, e creio que não diferente de você né amiga, que também buscava conhecimentos que não haviam ainda promovido uma mudança na sua história. Eu me questiono muito se não nos tornamos demasiados sisudos quando vamos envelhecendo, por que afinal das contas conhecemos mais do mundo, buscamos sermos mais claros e específicos nos quereres e sermos objetivos no que falamos e vivemos e encontro nesse questionamento a resposta ilustrada na nossa amizade. No tempo em que nos conhecemos e na história dessa amizade que vamos tecendo no decorrer da nossa existência levamos tudo de maneira divertida e nunca nos deixamos endurecer pela aparência de uma história alheia ou de um querer externo. Além disso nós nos tornamos alheios aos que nos cercam, criamos a nossa história independente dos amigos em comum ou dos que não fazemos ideia que o outro conheça. 
     Afinal, cada história é individual e única, cada pessoas que nos aproximamos criamos um enredo diferente e o nosso é uma comédia dramática, com uma pitada de suspense. Ao escrever essas letras eu sorrio ao lembrar o quanto gargalhamos apesar dos pesares. Sua amizade no entanto não é de se reclamar, e sim de se declamar, de se admirar, de se agradecer, e esta carta que blogo não trata nada além desse objetivo que não o da gratidão.
         Quem não se inspiraria por uma vida tão guerreira como a sua, que teve que fazer por sí, ser mãe, pai, irmã, tia, filha e acima de tudo mulher, quem veria isso como desvirtuoso. Uma mulher para ser verdadeiramente uma mulher não precisa estar a disposição de tarefas comuns e corriqueiras que erroneamente levaram uma sociedade arrogantemente machista a predominar por um tempo demasiado longo. Ao contrário, admiro mulheres que como você, lutam por não parecerem coitadas ou não serem julgadas como fracas luzes a iluminar cabeceiras de quartos obscuro. Você minha amiga, é uma força a ser admirada, temida e respeitada. São pessoas como você que fazem a diferença, que sabem amar com entrega, que respeitam os sentimentos alheios não deixando que ousem duvidar ou brincar com os seus. Mulher que cuida, educa, esclarece, chora, ama, vive, muda e recomeça tudo novamente. 
     Aprendi com você esse amor abnegado. Você me educou a ser melhor, a não apontar sem antes ouvir, que me inspirou a rir sem meandros ou entraves. O que seria mais do que o usual se não me tornar eternamente grato a você?
     Obrigado por me seguir na ilusão de me tornar grande, obrigado por partilhar seu conhecimento comigo, obrigado pelos conselhos ao telefone as 22hs da noite e pelo ouvido sempre disposto a me ouvir, obrigado pelo bom humor sempre presente em duas ou três frases proferidas em meio a tanta seriedade, não me deixando crer na ilusão de que o mundo está disposto a me servir.
     Não obstante alguns menos otimistas podem vir a pensar que isto seja uma carta de louvor extremo, mas a amizade é algo que não se explica, apenas se sente. A vida sem amizade seria uma loucura e sem a gratidão seria um circo de palhaços sem graça nenhuma. Trazer isso a tona e poder ser grato é uma beleza de bem viver. 
     Não quero com isso me tornar um chato citando nossas inúmeras aventuras fraternais por que só os amigos podem conhecer seus instintos e transformar aos outros isso em palavras é absurdamente impossível.
     Só preciso que você ouça meu sussurro de gratidão e o entenda e não pense que isso venha a ser uma desproposita carta de louvor e sim tão somente isso, um sussurro mesmo, mas de gratidão, essa que leva o amor a ser não mais um leão de garras afiadas e de dentes vorazes e sim num pássaro livre pela graça da amizade. 
Obrigado!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Incondicional verdade!

Verdade é um conceito estranho mesmo né! Os filósofos - cada um dentro do seu aspecto semântico - tenta desvendar o que seja verdadeiro, e a verdade de cada um. E eis que encontram-se numa roda viva sem volta - justamente a verdade de cada um.
Estes dias tenho notado que as pessoas tem usado as redes sociais para extravasar sentimentos antes retidos em duras celas mentais, utilizam de um meio social mais amplo para divulgarem emoções dantes esquecidas ou simplesmente sofridas no cálido refúgio interno. No entanto quando os sentimentos e emoções começam a tomar forma de letras e palavras, agora liberta das navalhas psicossociais, essas "verdades" proliferadas aos quatro ventos podem se contradizerem e tornarem-se simples tramas embaraçosas tanto para quem as escreve, quanto para quem as leem.

Não falo que exista verdades incontestáveis e nem gostaria de discuti-las aqui por que isso é tão sagrado como religião, futebol e sexo. Mas falo que pode-se perder o fio do que nos é verdadeiro - a cada um de nós - só para procurarmos nos "parecer" mais com a realidade, e comumente falando, com a onda do momento.
Somos - nós, os seres humanos - animais completamente adaptáveis. O camaleão tem muito a aprender conosco, ele é uma figura medíocre perto de nós, seres tão mutáveis. Uma "nova onda" surge e nós logo nos apropriamos dela como que angustiados com a ideia de ficarmos para trás na marcha do saber imediato. E o fazemos de certa maneira tão bruscamente que nos esquecemos de pesá-las na balança da racionalidade e acabamos nos perdendo em falácia a toa.

Tornou-se comum nas redes sociais postar coisas do gênero sentimental como: "Jamais te esquecerei enquanto viver", "minha vida é você", "sofro mais não viverei sem teu sorriso" e alguns outros lugares-comuns; em contrapartida você nota em postagem logo sequenciais coisas do gênero: "eu me afastarei de você", "te amei por que fui um tolo", não deixarei meu coração se enganar", "sei que doerá, mas uma vida sem você é pior", e por ai vai. O que sugere que ou a pessoa está incerta da sua verdade - sua verdade no amor, nesse caso - ou tem tanta insegurança em ser deixado para trás que não mais se torna senhor de suas palavras/emoções e acaba por se tornar mais um falastrão nas redes sociais. 
Contraditórios acabamos por nos tornar todos. Buscando crer no melhor pra nós acabamos por seguir receitas que não dão conta do que verdadeiramente somos. Acreditamos ter as rédeas da nossa existência bem presa em nossas mãos, mas nos viciamos em "blá, blá, blá".

Não seria - e isso é lógico - comum nos apropriarmos da nossa verdade e dai em diante não errarmos mais. É humano estarmos nessa roda viva inconstante. O que não poderíamos permitir é despejarmos isso sem ter o porque, simplesmente para nos tornarmos mais comuns do que certamente desejávamos. "As palavras são a fonte de mal entendidos" e devíamos levar isso ao pé-da-letra quando procuramos nos afirmar no meio social. Verdade sua, e tão somente sua, sem meandros ou justificações; sem rodeios e alegorias. Sua verdade, aquilo que te torna o que verdadeiramente és - e a serviço do que verdadeiramente deseja ser.
Não se rotule e crie com isso um avatar do logro para os muitos viciosos - e viciantes - das redes sociais. "Torna-te aquilo que és", mesmo que para isso tenha que calar muitas vezes o seu coração. Só dai então, finalmente, o silencio falará toda a verdade em você.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O miserável desconhecido

Não são raras as vezes em que me pergunto qual é essa de amor. Vejo, ouço, leio, assisto pessoas falarem sobre o sentimento com maestria como se já o tivessem vivido tantas e inúmeras vezes que o veem como um irmão mais velho sempre vindo a visitar-nos nas horas em que menos se espera. 
Será que para todos são exatamente iguais as maneiras e formas com que ele se apresenta. Onde então está a minha maneira, a minha forma, o meu exemplar? Não busco aqui que vocês me achem um piegas, ou um fraco a reclamar de sentimentos que nunca experimentei. Quem me conhece bem o sabe que não suporto (e nem creio) autopiedade. Não questiono com a vontade de me colocar como vítima de um mundo de privilegiados. Só me coloco diante do paradoxo de uma sociedade eternamente apaixonada onde ainda não me vi inserido nesse contexto de paixão amorosa.
Não obstante gosto de ouvir histórias de amor. Me encanta e por vezes até me faz chorar esses contos de busca eterna, de encontros e insanidades amorosas, mas nas muitas vezes também me sinto um peixe fora da água por não compreender a quantas chega as tramas envolventes da paixão. 
Todos os mais chegados a mim sabem bem o que penso sobre o amor, meus amigos mais íntimos bem conhecem o que realizo como verdadeiro amor, e nenhum exemplar humano se aproximou dessa "minha" verdade amorosa (exceto talvez por uma tia minha que bem viveu algo muito próximo a isso), e não creio que eu vá encontrar algum dia. 
Uma amiga certa vez me objurgou nessa crença dizendo que existem muitas formas de amar e que ela não aceitava que a julgassem diferente; ela amava sim muitas pessoas e todas de uma maneira bem particular. E ai vai a retaliação total quando se trata de uma pessoa como eu falar sobre amor. Sem dúvida os muitos lugares-comuns surgem para me explicar: você não sabe o que é amor por nunca ter vivido; você ainda vai morrer de amores por alguem e bla-bla-bla. Não discordo que possa mesmo ser assim, mas quando isso acontecerá? Quando eu estiver idoso e ninguem mais suportar os meus defeitos? (se é que já não o fazem)
Prefiro acreditar no entanto que outras pessoas possam senti-lo e me conformo por que isso as fazem melhores. Não quero, no entanto parecer-lhes arrogante, eu gosto  mesmo do amor. Amo o amor, para ser mais exato. Seguindo no que eu falava anteriormente, as histórias de amor me cativam, eu gosto de estar inserido nelas, opinar sobre elas. Vai ver é por isso que muitos me pedem conselhos sobre ele. O que eu um reles vadio no sentimento mais edificante (que nunca o experimentei realmente) posso opinar? Não sei. Talvez só o fato de pensa-lo e por muitas vezes o desejá-lo me faz compreende-lo melhor do que os verdadeiros apaixonados.
Não vejam com isso, o meu pessimismo como algo defeituoso e viral. Os modelos humanos não fazem jus a crença no amor. O que vemos em morte, devastação, traições e injustiças são argumentos bem viáveis no ceticismo ao amor. Não coloquem pro favor neste âmbito, Deus e amores fraternos, isso está fora de cogitação. O que proponho aqui é o amor de "pessoa para pessoa"; o carnal, o sexual, o afetivo. Esse que juramos sentir pelo desconhecido que prometemos amar a vida toda. 
O que pode assustar também é esse compromisso a que nos propomos ao nos apaixonar: "Tu te tornas responsável por aquilo que cativas" propõe Antoine de Saint-exupéry e nos coloca diante de um compromisso pra vida inteira. Por que vou continuar amando pra sempre alguém que muda a cada estação e que nunca será o mesmo por quem me apaixonei a trinta anos (ou menos) atrás? A verdade para o físico (já que os anos não nos fazem eternamente jovens) também o é para o psicológico (afinal o que se pensava a 10 anos atrás não é o mesmo que se pensa hoje); tudo muda e o amor (segundo os defensores da causa) se mantém sempre o mesmo! Como ser fiel as estações que vivem mudando? Como ser fiel a uma ideia que sempre será superada? Como ser fiel aquele que amei desde a primeira vez que o vi se amanhã ele já será outro?
São as perguntas e não as respostas que encontram barreiras na crença desse sentimento tão ambíguo e ao mesmo tempo tão particular. 
Apenas viva-o sem tentar defini-lo, objetar-me-ão alguns, mas como não tentar fazê-lo se a experiencia nos obriga a duvidar sempre e sempre?
Enquanto não encontro o viver fico no investigar, no parecer, no vislumbrar e vou me emocionando, me irritando, me despindo dos preconceitos que me cegam para o sentimento mais controverso da experiencia humana. Te amo, amor!

sábado, 8 de outubro de 2011

Nossa cética verdade

       Hoje aprendi uma lição importante! Aprendi que a luta é incessantemente angustiante e que só os fortes se lançam a ela sem covardia, e não a vencem, mas perseveram na esperança de que seus urros sejam escutados lá longe. Hoje aprendi a deixar para lá.
      Mas que coisa é essa, vindo exatamente de um cara como eu que não há muito se dizia esperançoso de um mundo melhor e coisa e tal? Não me entendam mal, o meu deixar pra lá nada tem a ver com desmazelo ou desrespeito pela condição humana, muito pelo contrário, é antes uma percepção das limitações desta. Vamos imaginar assim, eu compreendo que não devemos esperar o inviável de algumas pessoas, e que o convívio com este me leva a ver e perceber o quanto posso chegar com este ou com aquele indivíduo, mas por que não canso de me impressionar com condições tão infames? Por que teimo em ficar aturdido com seres tão medíocres que dizem amar e no entanto só enxergo ali amor-próprio? E na mais elevada sublimação, se me permitem dizer!
      Tá, não sou hipócrita o suficiente pra me dizer isento deste amor-próprio. Claro que não! Que pessoa, exceto os loucos, não se amaria e não lutaria pela sua sobrevivência se esta se pusesse contra sua vida? O que digo, é sobre as pessoas que se firmam tanto nesta condição que acabam por perder o valor por sua própria vida.
      Os psicopatas são seres sem sentimentos, vivem pela única razão de se darem bem a custa do declínio dos seus semelhantes. Para estar no topo, derrubam, mentem, vivem verdades das quais só eles acreditam, usurpam bens, fraudam identidade e até mesmo emoções. Será que falei algo aqui diferente da condição humana da maioria? Em que seu vizinho, seu tio, ou seu dito melhor amigo tem de divergente. Peco em generalizar, mas quem generaliza no fim das contas não sou eu, é a experiência do convívio e a socialização, esta faca de mil gumes.
      Tá, que a verdade, assim como o amor, é diferente para cada um eu até posso admitir, o que não posso admitir é a perca da fraternidade, é a perca da liberdade de ser verdadeiro. A verdade  em muitos povos é chamada de boa-fé, e isso deveria nos ensinar algo acerca da verdade, de que ela é, em alguns casos, universal. Senão por que o nome de verdade? Mas como se trata de boa-fé é necessário antes, que se acredite nela, mas não que use-a para desculpar-se da tolice. A verdade de cada um deve ser posta ininterruptamente a prova da boa-fé universal, só assim tornar-se-a comum ao amor. Quando digo amor, posso substituir por caridade, afinal devemos amar sem o julgo das nossas paixões.
      Mas daí acabo por entrar em um campo que domina a razão e a põe a ferros: a paixão. Esta que nos causa dor e nos faz querer causar dor, essa que nos possuem e nos cega, que nos espreita a espera de um desvio para que possamos erguer o dedo em riste e acusar sem o graal da razão. Essa mesma que nos tira da humanidade (mas que no entanto nos mantem no campo do amor-próprio por que afinal que paixão é mais intensa do que esta?) e nos leva a castigar a fraternidade que nos cega diante da amizade. Nos engana e nos faz enganar. Que nos causa intensa euforia mas nos guia à ansiedade de querer sempre mais!
      Me estendo muito? Eu sei, mas como esta própria, a paixão, não reinaria em mim no exato momento em que digito palavras que acredito serem essenciais para meu ser e que me cega de revolta? Só ela poderia mesmo reinar, e reinará sempre!
      Mas falava eu de uma lição, a de "deixar pra lá". Urge o momento em que o seu silêncio será mais educativo do que sua paixão. Que a indiferença será melhor compreendida do que a tergiversação incansável. De que o dar de ombros será mais estimado do que o cair das lagrimas. Vejo diante de mim um futuro mas indiferente. Não que eu me tornarei apático para as pessoas que mais estimo, e que tem em conta o valor da amizade (por hora, afinal a experiência nos mostra que esta está tão morta e putrefata quanto o amor e a verdade ou o "amor à verdade") mas me tornarei sim, apático, aos outros. 
      Falava eu, dia desses, das crianças e do quanto elas são honestas em suas emoções e sentimentos. Não logram do artifício para rir quando necessário e agradar os que tem mais. São sim emotivas e verdadeiras ao extremo. Porque nos deseducamos? Fica uma lição a pedagogia futura: o não ensino da inverdade. Começo no entanto a concordar um pouco mais com a máxima de Rosseau de que o homem nasce bom e é corrompido pela sociedade. Na verdade o que se corrompeu foi a moral, e com ela, seus preceitos foram mal aprendidos.
      A busca do homem em ser amado acima de tudo os faz cego diante da jornada. È como um viajante que faz todo o caminho dormindo de olhos vendados rumo ao destino, e que só o visa, esquecendo-se da paisagem no decorrer. O homem deve na verdade não buscar coisa nenhuma, só viver simplesmente e curtir a "viagem" se possível com os braços ao ar e recebendo o vento da verdade na face.
      Não entendam com isso que esqueci do amor e que não valorizo mais a amizade, talvez por acreditá-los tanto é que eu tenha tomado a liberdade de fazê-los mitos. Mea culpa!

sábado, 8 de janeiro de 2011

o SER e o NADA

A inspiração comigo sempre funcionou da seguinte maneira: de um fato corriqueiro do meu cotidiano surge à oportunidade de aprender uma lição, e como sou teimoso, de passa-la adiante.
 
Isso me faz recordar que em certa ocasião, eu limpava um balcão de vidro em um antigo emprego, quando me deparei com o reflexo de um cartaz que estava pendurado na parede do estabelecimento. A palavra em questão era SENSACIONAL, e o reflexo agia de forma curiosa fazendo a imagem aparecer ao contrário onde se podia ler agora a palavra LANOICASNES. Fiquei um determinado tempo observando a palavra vista ao contrário, quando um colega entrou no estabelecimento me pegando em devaneio a pronunciar a palavra em voz alta. Ele já muito curioso, me questionou onde eu lia esta palavra tão esquisita. Eu vendo ali uma oportunidade única, apontei o balcão de vidro e disse simplesmente: “Aqui”. Com a curiosidade aumentada ele perscrutou de diversas maneiras o balcão: em cima, embaixo, ao lado, dentro do balcão, fuçou os objetos que estavam dentro do balcão e até olhou de pertinho, mas nada de achar. Eu o fiz sofrer um pouco, e lia repetidamente a palavra para ele, com a confiança redobrada. Tranquilamente após diversas tentativas frustradas deste colega, eu disse: “Amigo, você está olhando sem ver. Tente olhar para o reflexo do vidro”. Mas que dó, nem com esta dica o pobre não enxergava a palavra. Tive que finalmente apontar o caminho ao cara, e usando uma frase de efeito, arrematei: “Viu só!? Nós  só vemos aquilo que queremos que nossos olhos vejam?”. Meu Deus! Que erro que cometi. O sujeito quase me degolou, e apresentou diversos argumentos que poriam minha tese por terra. Mas a merda (com o perdão da palavra) já estava feita, e minha frase pairava no ar insistente e imponente como a nos lembrar dos nossos vergonhosos defeitos.
 
O que me fez lembrar agora esta história – que já aconteceu a um bom tempinho – foi um filme que assisti recentemente (não pela primeira vez), intitulado “A vida em preto e branco”. Em poucas palavras, o filme narra à história de dois adolescentes em conflito que se veem de repente dentro de uma série de televisão da década de 50. Lá naquela cidadezinha tudo era preto e branco (devido até mesmo à época), e nada mudava a rotina da população. Tudo era meio que programado a acontecer de determinado jeito. A vida daquela gente tinha um roteiro que deveria sempre ser seguido. Mas a presença destes dois adolescentes começa a perturbar a quietude daquela gente. Em determinadas situações eles começam a fazer as pessoas perceberem-se. Eles fazem as pessoas agirem de forma mais livre, sem o roteiro predeterminado. O que ocorre a partir daí, é que a cor começa a aparecer para estas pessoas, literalmente, tudo começa a ficar colorido aos poucos, a partir do momento em que algumas pessoas começam a “acordar” para a vida. A analogia a partir deste ponto fica fácil. E no final uma das personagens principais do filme deixa uma mensagem reveladora: “Tá tudo aí, dentro de você”.
 
Tá, eu sei que determinadas coisas ficam chatas se faladas repetidamente e no final acabam virando clichê. Mas isso acontece por quê? Por que ao falarmos tanto determinadas coisas, elas viram clichê? É porque não damos a menor importância a estas mesmices de moral, virtudes, finais felizes e seus congêneres. Não nós importamos com verdades absolutas, não damos a mínima para “moral da história” e blá blá blá de bem viver e autoajuda. Somos em suma, vazios de sentimentos, ocos de emoção.
 
È inviável, para alguns, enxergarem o quando é necessário se abrir para possibilitar verdadeiras experiências de vida. É inaceitável a estas pessoas crerem em si próprias. A insegurança de se doar as torna seres com rostos de plástico num mundo surreal.
 
O que eu queria que o cara ali da minha experiência enxergasse é que os preconceitos dele tornavam as pessoas com quem ele vivia em personagens de ficção. Ele não se relacionava com pessoas, e sim com personagens que ele moldava em sua cabeça e aquilo já era o tudo para ele. 
 
Tudo nesta relação se torna algo meio que: Eu conheço você. A primeira vista, rascunho um personagem ideal que você se encaixaria; depois pegaria as primeiras informações que você me passa (voz, trejeitos, andar, experiências narradas por você), e as que eu percebo sozinho (olhar, tiques, manejos de voz, ritmo de conversação) e as alocaria aos poucos nesta personagem, que vai tomando forma, corpo, personalidade (sic). Pronto! Está criado o ser perfeito. O que falta é eu coloca-lo na hierarquia devida das minhas relações: conhecido, colega, amigo, parente, louco, inconveniente, desagradável, levemente simpático, evitável... E por ai vai, aos extremos que chegarem a nossa mente perturbada. O problema, é óbvio, está com a gente, que resumimos tudo a uma imagem. 
 
Este cara aprendeu a lição? Não sei, e não me importo. Afinal o que já era ruim pode até ter piorado. E do que isso tudo adiantou? Ficou para mim, a esperança de encontrar daqui pra frente pessoas que queiram estar com pessoas. Fica em mim, uma vontade de acreditar em algo diferente do predeterminado, algo que me faça ofegar de alegria. 
 
Talvez o que falte a algumas pessoas seja simplesmente o respeito pelo “ser” de cada um. Deixar que a pessoa se mostre. Que esta pessoa seja apenas ela mesma. Não criar seres incompletos. Não vislumbrar o irreal. Não prever. Deixa-lo apenas ser. E deste ponto começar a apaixonar-se pela vida.
 
Eu sei que na postagem anterior eu já enveredei por um assunto muito parecido. Perdoem-me a insistência. É que tenho visto muitos fantoches por aí, e vejo também os manuseadores das cordinhas. 
 
Mas permitam-me sempre a ser o esperançoso, permitam a um coração inquieto sempre acreditar nas virtudes que possivelmente muitos possuem, e que serão um dia, finalmente, contagiosas.